sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

COMO EXPLICAR O INEXPLICÁVEL

Interrompi minhas reflexões, assim como a minhas tão queridas férias, para escrever sobre o terror que assolou minha a cidade. Nunca vi, ao longo dos meus anos de vida, tanta tragédia, tristeza, dor, desolação e desespero como do dia onze de janeiro para os dias de hoje. A televisão não mostrou cinco por cento de tudo, até porque não pode, as cenas eram fortes de mais. No dia onze às dez da noite, eu estava no Rio com minha mulher e filhas comemorando a chegada de Lucília de Mississipe, após vinte longos dias de trabalho, quando uma forte chuva começou a cair sobre nós. Resolvi, então, permanecer em casa de Giovana, e subir a serra no dia seguinte. Foi o que fiz! Quando cheguei em casa, isto no dia doze, percebi que a garagem de minha casa estava tomada de terra, logo pensei, choveu muito sobre a cidade... Comecei a limpar toda aquela sujeira, enquanto isso, recebi uma ligação do meu assistente dizendo-me que Itaipava estava sem passagem e que uma enorme tragédia instalara-se o vale do Cuiabá de grande proporção, mas que ninguém sabia os resultados. Procurei descobrir pela net, rádio, tv até que por volta do meio dia, as notícias começaram a ganhar espaço nos tele-jornais, Nova Friburgo era palco de uma catastrofe sem precedente. Desde então a imprensa começou a noticiar o que todos já sabem. Não tive sossego e comecei a pensar o que deveria fazer, que passo deveria tomar. Não consegui até pela manhã do dia treze, quarta-feira, entender o que estava acontecendo e muito menos o que fazer. Conversei com Deus durante a madrugada e umas coisas começaram a vir a minha mente. A primeira delas foi, interrompa as suas férias, tem gente precisando do trabalho da igreja e do seu esforço. A segunda foi, convoque os líderes e comece a preparar comida para quem precisar. A terceira foi, mexa-se tem muita gente morrendo, sofrendo e preciso de gente que coloque a mão na massa. A única coisa que pude fazer no momento foi dizer, sim Senhor! Liguei para o primeiro vice-moderador em exercício e disse-lhe que estava retornando ao trabalho e precisava de uma equipe eficiente e obediente. A seguir, liguei para presidenta da MCA, e assim fui avisando um por um dos irmãos da igreja. Começamos o trabalho às dez da manhã, depois que passei no supermercado e fiz a primeira compra: 40 quilos de carne para assar, 20 quilos de drumet, 30 de carne moída, 20 de coxa e sobre coxa, 600 quentinhas , garfos, etc. Quando cheguei na igreja encontrei várias irmãs e o irmão Lúcio, iniciando o nosso front de guerra contra a fome e a miséria deixada pelo Tsumane Serrano. Comecei a usar a internet, os telefones e todo meio de comunicação possível para pedir socorro. Os contatos foram sendo feitos e na media que usava algumas informações e imagens postadas na rede, pessoas começavam a nos telefonar e a nos perguntar como poderiam ajudar, pois também havíamos colocado uma faixa na grade de frente da igreja, comunicando a comunidade que a partir daquele momento tornávamos um centro de arrecadação de doações para as vítimas do maior desastre natural da história. Naquela manhã preparamos 200 quentinhas e mandamos para o Centro de Coordenação da Prefeitura e à noite consguimos preparar mais 150. Na tarde do dia 13, saí com Lúcio para entregar quentinhas e, então, chegamos no bairro Cuiabá, que tristeza. Subimos a pé com 30 quentinhas e quando chegamos na casa dos irmãos Marci e Donária, levamos um choque, duas casas de suas filhas haviam sido levadas pela água, a ponte que ligava a outra margem do rio estava desmoronada e um barquinho podia nos ajudar a chegar aquele lar abatido. Nesse momento, não aguentei e chorei, chorei muito e quando atravessei para a outra margem do rio fui recebido pelo irmão Marci e quando o abracei, chorei compulsivamente enquanto ele me dizia: pastor que bom que o senhor chegou... Fui com ele até a sua casa e lá encontrei toda a sua família reunida, foi ai que percebi que Deus havia dado livramento aqueles irmãos. Mas, o resto ao redor, era lama, morte, dor, sofrimento, perguntas e perplexidade, nenhuma resposta ou explicação. Percebi que muito mais do que a desobediência e o desrespeito do homem, a corrupção dos governantes, a vaidade e a soberba dos ricos, era a completa ausência de palavras. Ninguém ousada tentar dizer o que poderia ter causado aquela descontrolada e agoniante cena. Fui com Marquinho, genro do irmão Marci, o que perdera a sua casa, para ver o montante da destruição, então vi o que poucos viram. Pensei, como explicar tudo isso? Como explicar o inexplicável? Então recorri a Deuteronômio 29:29 e entreguei tudo o que vi e senti nas mãos do grande Criador.

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